Ele está no meio de nós!

Por Frei Pedro Geremias Bruxel


  A pandemia do Covid-19 chega quase a saturar nossa capacidade de absorção de mensagens, áudios, vídeos e notícias que nos vêm de todos os lados. Sim, o tal vírus fez com que nosso mundo desse uma parada radical. O comércio parou, os eventos parararm e até nossas celebrações e encontros pararam. Fomos obrigados a nos distanciar uns dos outros, do contato físico para evitar que esse vírus se alastre descontroladamente. Deixamos de estender a mão para cumprimentar, abraçar e tocar. Em alguns lugares do mundo foi ainda mais radical. Até as ruas silenciaram. Imagens de ruas tumultuadas deram lugar a imagens de ruas vazias. 
  E agora? Como vamos aguentar? Como vamos ficar sem celebrar a Eucaristia? E a catequese? Como vai ser? Aos poucos fomos acolhendo a ideia de que, para que cuidássemos de nós, realmente teríamos que nos adaptar a esta realidade. Inicialmente as missas começaram a ser celebradas privadamente e transmitidas pelas redes sociais. Aqui e acolá alguém se manifesta desejoso de querer de alguma forma comungar. Realmente. Nada se compara e nada pode substituir aquilo que é real, visível e verdadeiramente humano. O encontro. E é neste encontro em torno de Cristo que se dá a Eucaristia. 
   Mas este tempo, marcado pelo medo e incertezas, ainda está longe de se dissipar, não deixará tudo como antes. Teremos redescoberto o sentido mais pleno do mistério da fé. Muitas de nossas casas se tornaram uma igreja doméstica. Pudemos ir redescobrindo nas palavras de Jesus “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles”, que Cristo está tão no meio de nós como na Eucaristia. Redescobrimos que na família ou onde dois ou mias tomam parte da Palavra de Deus, Ele está lá, no meio deles. Faz-nos lembrar que não só na hora da comunhão Eucarística, mas quando anunciamos a proclamação da Palavra do Evangelho, aclamamos dizendo “Ele está no meio de nós!” 
   Redescobrimos ainda a oração discreta e silenciosa do nosso quarto: (Mt 6, 6) (...) quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. 
   Bom. Também vimos o Senhor no meio de nós na partilha dos bens: (Mt 34, 40) “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’”. Com muito mais força vimos crescer entre nós a partilha do pão, de máscaras, de materiais de higiene. Sim, o Senhor está no meio de nós! 
  Estamos no tempo Pascal e a leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, do segundo domingo, faz menção à identidade da comunidade cristã: eram perseverantes nos ensinamentos dos apóstolos, na fração do Pão, na partilha dos bens e na unidade. Assim, eram estimados por todos e muitos se juntavam para que a graça da salvação também fosse dada a estes. 
  Dito tudo isto, o isolamento forçado, imposto pelos cuidados necessários ao enfrentamento da pandemia deve fazer-nos crescer na compreensão mais plena da Eucaristia. Embora nos refiramos à Eucaristia como corpo e sangue de Cristo, consagrados na missa pela ação do Espírito Santo, há eucaristia também quando verdadeiramente nos unimos e somos o corpo de Cristo na Igreja: no ensinamento dos apóstolos (catequese, grupos bíblicos, estudos, leitura orante), na partilha dos dons (partir o Pão, nas ações solidárias, Dízimo) e na unidade. De outra forma, a Eucaristia pode se tornar até uma certa idolatria. 
   Para concluir, recordo aqui um artigo do padre André Luis Fernandes, missionário que atua na cidade de Barcelos, estado do Amazonas. Diz ele que muitas pessoas acorrem mencionando o desejo de receber a Comunhão, que neste período de mais ou menos um mês ficamos privados até agora, e que isto o faz lembrar de milhares de pessoas pelo mundo e, especialmente na Amazônia, que estão privadas de poder comungar por muito tempo. No entanto, segue dizendo ele, de forma alguma manifestaram importância a isto quando no Sínodo para a Amazônia ou antes, nos trabalhos preparatórios, falava-se em novos ministérios (Viri Probati, diaconato feminino). As perspectivas apontadas para que centenas de comunidades espalhadas pela Pan-Amazônia pudessem ter a comunhão Eucaristica foram recusadas. Deve fazer-nos todos refletir e pensar de forma mais ampla e menos egoísta. Intenção não é relativizar o valor da comunhão sacramental, mas permitir que intuição de Cristo ao “partir o pão” favoreça nossa mais plena comunhão.

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